CHAVOSO DA USP E OS WHITE PEOPLE PROBLEMS

Assisti ao vídeo em que o Chavoso da USP faz críticas ao filme Ainda Estou Aqui. Ele argumenta que a história de uma família branca de classe média durante a ditadura não é representativa do período, mesmo sendo baseada em um personagem emblemático da época. Além disso, ele menciona não sentir empatia pelas pessoas brancas presas, torturadas e assassinadas nesse contexto, apontando que a “população preta das favelas” ainda enfrenta esse tipo de violência nos dias de hoje. Como exemplo, ele relata suas próprias experiências de abordagem policial injusta, incluindo ter sido acusado de pular a catraca do metrô.

Embora compreenda sua crítica à centralização de narrativas brancas ao abordar períodos históricos, vejo essa posição como limitada e pouco construtiva. Sou pardo, gay, cresci na periferia e, como o Chavoso, também estudei na USP. Não me enquadro no perfil de “branco de classe média privilegiado” que ele critica, mas ainda assim o filme me emocionou profundamente. Isso me faz refletir sobre como o apego ao ressentimento pode acabar nos privando de empatia, mesmo em histórias que, de algum modo, carregam significado histórico e humano.

Concordo que o sofrimento de certos grupos historicamente marginalizados é muitas vezes negligenciado ou invisibilizado nas narrativas predominantes. No entanto, acredito que relativizar dores e minimizar a importância de determinados relatos pode nos levar a um cinismo perigoso. Sempre haverá tragédias mais amplas ou histórias mais sofridas. Por exemplo, o fato de a ditadura brasileira ter sido menos violenta do que a argentina não torna menos legítimo o sofrimento das vítimas daqui. Da mesma forma, histórias individuais ou familiares, mesmo as de grupos privilegiados, também podem nos ajudar a entender contextos complexos, sem que isso anule outras vivências.

Quando o Chavoso compara ser acusado de pular a catraca do metrô com os horrores da tortura na ditadura, ele coloca em perspectiva o racismo estrutural e as violências diárias que muitos enfrentam hoje, mas, ao mesmo tempo, pode soar como uma equiparação desproporcional, que enfraquece sua crítica. A tendência de desqualificar histórias por serem consideradas “white people problems” parece levar esse relativismo a um ponto em que corremos o risco de perder a sensibilidade para qualquer sofrimento que não esteja diretamente relacionado à nossa experiência.

O que vocês acham?